Uma coisa que aprendi ao longo do meu trabalho com gestão de projetos é que a boa compreensão do trabalho - a ser feito ou já realizado - tem tudo a ver com uma história bem contada. Para minha grata surpresa, já com esta segunda crônica engatilhada, comprei a versão 981 da revista Exame para ler no trajeto entre Porto Alegre e Foz do Iguaçu. Além de uma excelente matéria sobre o Facebook, com direito a uma entrevista com o seu criador, Mark Zuckerberg, a revista ainda traz o artigo de Lucas Amorim, "Quanto vale uma boa história", cuja leitura recomendo.
Terminei minha crônica anterior com o vídeo "Um sonho de liberdade", construído apenas com softwares livres pelo Cícero Moraes. A Latinoware é um evento de caráter bastante técnico, mas que aborda assuntos que interessam também àquelas pessoas que têm no computador um aparelho para a comunicação, o lazer, a produção intelectual, artística e cultural. Buscamos criar um evento atrativo para todos e, para isso, tínhamos que construir uma boa história.
Como eu disse antes, o programa do evento é a sua alma, o argumento básico de sua história. Ao mesmo tempo, ele é o que mais demora a ser completado. Ele depende da organização de cada uma das trilhas individuais coordenadas pelas várias comunidades, da negociação com organizadores e patrocinadores para que tragam palestras atrativas ao público do evento, da busca de atender às muitas expectativas coletadas deste público e, afinal, da agenda dos palestrantes e do orçamento para trazê-los.
Por isso, mesmo com o programa em construção, dentro das "tags" que estávamos favorecendo, fomos produzindo várias entrevistas com os palestrantes que iam sendo confirmados. As entrevistas já eram encaradas como uma espécie de roteiro que se desenvolvia para a Latinoware 2010, servindo também como pequenos trailers para o evento.
Uma coisa muito interessante que aconteceu neste ano foi que o nosso "programa de trabalho" vazou através de um tweet de um palestrante. A culpa foi minha por não ter avisado que aquela era um informação de controle interno da organização. Por outro lado não havia nenhum mal em que ela se tornasse pública e isso acabou mostrando o poder da divulgação que o Twitter teve antes, durante e depois do evento. Foi a partir daí que decidimos sortear, no encerramento da Latinoware 2010, um ingresso com direito a passagem e hospedagem para o evento de 2011. E o sortudo que ganhou a promoção foi Ramilton Costa Gomes Júnior, de São Mateus (ES).
Da mesma forma que um grande sistema é desenvolvido, partindo-se de uma ideia geral e fatorando-o em casos de uso individuais e compreensíveis, o mesmo foi feito com a Latinoware. Cada atividade deveria funcionar como um objeto contido em si, mas com interfaces com o assunto (ou assuntos) no qual estava inserido. Da mesma forma todos os assuntos deveriam relacionar-se e compor o grande evento. Na maioria dos casos, esta unidade "sistêmica" manifestava-se muito claramente, em especial nas atividades voltadas à Educação e à exposição de modelos de negócios latino americanos. Em raros casos, porém, esta clareza talvez estivesse evidente apenas na mente daqueles que vivem a Latinoware de forma mais permanente, além dos três dias limitados pela conferência.
Assim como na série longeva série Star Trek, a Latinoware tem todo um conjunto de histórias passadas, fatos e personagens que são usados na construção dos novos roteiros que virão. Como nas aventuras de Kirk, McCoy e Spock, os fãs da Latinoware também influenciam - e muito! - nos eventos que ainda acontecerão. Claro que nem sempre é possível agradar a todos. Como diz o Mark Zuckerber, é impossível ter meio bilhão de amigos sem ter alguns poucos inimigos. Não que a Latinoware tenha inimigos, mas procuramos ouvir e interagir com os que, por um motivo ou outro, estejam descontentes, buscando um evento que agrade cada vez mais a todos. Uma das ideias novas é sediar, na Latinoware, uma convenção de Star Trek. Quem sabe...
Nas próximas crônicas, mais sobre palestrantes, histórias, críticas e trailers.
Artigo publicado no Dicas-L