Free Software Asunción

Os primeiros meses deste ano renderam-me uma série de viagens: estive nas Ilhas Canárias, Espanha, participando do International Workshop for e-Health in Emerging Economies; na CeBIT, Alemanha, dando a largada no processo de internacionalização da Interact, que depois também levou-me a Bogotá e Cali na Colômbia e agora mesmo escrevo este artigo no confortável vôo para Santiago do Chile, onde apenas faço uma escala para seguir adiante até Quito, onde sou keynote speaker do Congreso de Tecnologias Integradas falando sobre interoperabilidade e fontes mistas. Estive no Brasil apenas um dia para comemorar o aniversário da futura doutora Natália, minha filha, que acaba de fazer uma cirurgia de sucesso em seu primeiro paciente. Antes disso estive em Asunción, no Paraguai, onde fui painelista do evento Free Software Asunción.

Comecei a envolver-me com eventos de software livre há mais de dez anos. Ajudei a organizar os primeiros Fóruns Internacionais de Software Livre, a Conferência Internacional Software Livre Brasil, a primeira e a mais recente edição da Latinoware, todos os Seminários de Desenvolvimento de Software Livre sediados na Unicamp, Univates, Unisinos e UnB, isto apenas para ficar em alguns. Gosto especialmente quando os eventos são capazes de construir uma identidade diferenciada, que ajuda em sua longevidade. O Free Software Asunción promete.

O evento, que aconteceu nos dias 23 e 24 de abril de 2010, contou com mais de 500 participantes de todos os países da América Latina, além de convidados da Índia, Itália, Estados Unidos, entre outros e contou com mais de 20 apresentações distribuídas em três salas e um auditório do hotel Crowne Plaza. As apresentações estavam muito bem divididas entre conceituais, sócio-políticas e outras bastante técnicas, envolvendo tutoriais em linguagens de programação como o Python e o uso de ferramentas como o Blender e o Invesalius (apresentado por Tatiana Al-Chueir Pereyra do MCT - CTI). Também mencionei o Invesalius como um dos exemplos de softwares disponibilizados pelo portal software público em minha palestra, na qual contei um pouco sobre a evolução do software livre no Brasil e todo o processo de maturação de seu desenvolvimento, entorno comunitário e a possibilidade de criação de modelos de negócios de sucesso. As quase 40 soluções disponibilizadas no Portal Software Público, que completou três anos neste mês de abril, são o melhor exemplo da forma pela qual um país pode conquistar a soberania tecnológica através da superioridade técnica do modelo de produção e serviços de forma comunitária, com responsabilidade social por um conhecimento que é de todos.

Nazaré Bretas, do Ministério de Planejamento e Gestão do Brasil, participou, no dia 23, do painel sobre tecnologia e governos, acompanhada de representantes dos governos da Argentina, Ecuador, Paraguai, Cuba e Bolívia. Este painel acabou estendendo-se para o dia 24, para uma discussão sobre soberania nacional e tecnologias livres, que decidiu pela elaboração da Carta de Asunción, uma proposta para que todos os governos do mundo tenham em conta a necessidade de priorizar a adoção e o desenvolvimento de tecnologias livres, em especial aquelas necessárias ao exercício do poder público e à formação de crianças e jovens.

O evento foi organizado pela Mesa Multisectorial de Software Libre e pela Sociedade Educativa Tercer Milenio, com co-organização da Conatel e o apoio do governo do Paraguai, da Itaipu Binacional, do Parque Tecnológico de Itaipu, entre outros. Em um evento deste porte, que logrou atingir um altíssimo nível de discussão e colaboração entre países da América Latina, sempre é difícil destacar apenas alguns entre os tantos que trabalharam para o seu sucesso. Mas deve-se reconhecer o esforço especial de Nicolás Pereyra Molinas e Nicolás Caballero, ambos do gabinete civil da presidência da república do Paraguai. Parabéns e muito sucesso na continuidade deste evento!

Artigo produzido para o Dicas-L



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