A Internet das Coisas

Meu primeiro contato com um computador foi com um mini da Polymax. Meu tio Francisco, o Kiko, apresentou-me a ele e ao Cobol em umas férias que passei no Rio Grande do Sul no final dos anos 1970. Depois, no Colégio Lavoisier, no Tatuapé, em São Paulo, cheguei a brincar um pouco com um dos poucos ZX 80 da Sinclair que a escola havia importado. Ao final da escola técnica, em 1982, eu sonhava trabalhar com áudio mas já estava trabalhando com computadores. Até tentei levar adiante o meu curso de Física (ainda sou apaixonado por Física) que comecei na USP e continuei na UFRGS. Mas o final da reserva de mercado para a informática no Brasil e, com isso, os longos períodos de capacitação que passei a ter sobre processadores e protocolos de comunicação, processamento paralelo massivo, tolerância a falhas e outros temas no exterior, na sede das empresas onde trabalhei, desviaram-me do caminho acadêmico ao qual já tentei muitas vezes retornar - meu plano é ainda graduar-me em Filosofia!

Em 1988 comprei meu primeiro computador doméstico, um MSX. Pouco depois conectei-o a um modem e, durante as madrugadas, quando as ligações eram mais baratas, eu acessava a BBS Canal Vip, do querido Paulo Cesar Breim, em São Paulo.

Antes, em 1984, o James Cameron nos havia apresentado ao Exterminador do Futuro. No filme, o Arnold Schwarzenegger (ex-governador da Califórnia e ex-marido da Maria Shriver) olhava para pessoas e objetos e imediatamente visualizava informações sobre eles. Hoje celulares com GPS e softwares de realidade aumentada já mostram informações sobre os locais que estamos visitando de uma forma até mais sofisticada do que a mostrada no filme.

Recentemente a BrodTec e a Jera Software Ágil iniciaram uma parceria com a empresa belga Getyoo. A ideia é tornar "clicáveis" os elementos do mundo real, levando-os para a web. Ao invés de trocarmos cartões de visita "clicamos" uns nos outros e nos tornamos contatos em nossas redes sociais. Ao invés de carregarmos milhares de folders e brochuras em um evento "clicamos" nos elementos dos quais queremos mais informações e elas imediatamente passam para nossos perfis virtuais, de forma a podermos comentá-los, compartilhá-los e pedir opiniões aos amigos. Indo para uma festa, podemos receber sugestões de amigos para o Facebook ou tirar fotos com a turma que serão publicadas imediatamente em nossos perfis. Tudo isso já existe na forma de uma tecnologia que evita a derrubada de milhares e milhares de árvores para a produção de papel, além de eliminar a necessidade de outros sistemas de armazenamento de contatos, já que eles passam a ser naturalmente organizados de maneira intuitiva em nossas redes sociais. Na semana do dia 23 de maio teremos um encontro com empresas incubadas no Parque Tecnológico Itaipu onde faremos uma oficina para a troca de ideias e transferência de conhecimento, visando buscar novas aplicações ecologicamente corretas para este tipo de tecnologia. O encontro acontece como um evento paralelo ao Entrí, um aperitivo da Latinoware 2011.

Dispositivos para NFC (Near Field Communication) são os que permitem "clicar" os elementos do mundo real. Todos os que já compraram roupas em grandes lojas já experimentaram esta tecnologia em sua primeira encarnação, o RFID: o sistema que aciona o apito irritante, quando alguém tenta sair da loja sem que o vendedor tenha retirado da roupa a etiqueta com a identificação da roupa, está baseado nesta tecnologia. O que aponta para a sua popularização é, dentre outras coisas, o interesse do Google. Novos dispositivos Android já começam a incorporá-la.

Pessoalmente, gosto desta ideia de internetear coisas, de trazer para o real as conexões do mundo virtual e vice-versa - talvez por ter sido daqueles que mandavam cartas (e eu até colecionava selos!), montar até hoje meus rádios de galena nas horas vagas e gostar mais de estar realmente perto das pessoas. Antes ter a realidade aumentada e clicar com amigos do que sucumbir a uma vida virtual demais.

Artigo publicado no Dicas-L



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