Liberdade em Software: Direitos, Deveres, Metáfora e Ganhando a Vida

por Robert J. Chassell
Free Software Foundation - GNU Project

Traduzido por Cesar Brod
Revisado por Joice Käfer

Ganhar a vida com software livre implica em mais coisas do que tocar um negócio. É necessária uma infra-estrutura de instituições que o protejam e um entendimento das metáforas que moldam o pensamento dos indivíduos.

Neste ensaio iniciarei com uma explicação da natureza da liberdade em software: seus direitos e seus deveres.
A seguir falarei sobre formas através das quais pessoas que não são programadores podem entender software: o uso de metáfora. Nos Estados Unidos, por exemplo, você ouve com freqüência a expressão 'The Information Highway' (A auto-estrada da informação). Isto é uma metáfora.

Homens de negócio e oficiais do governo freqüentemente baseiam suas decisões em metáforas.

Descreverei, então, a história do software livre. O passado nos mostra o que devemos esperar do futuro, e como fazer nascer o sucesso a partir do fracasso.
Falarei sobre o que a liberdade nos dá:

  • confiança,
  • eficiência,
  • segurança,
  • opção de fornecedores,
  • poucos obstáculos para entrar,
  • os direitos legais e práticos para iniciar e tocar um negócio.

E finalmente, quero focar nos modelos de negócio em software livre.

Modelos de negócio de sucesso reconhecem que o lucro relativo a software vem de alguma espécie de serviço.

O que é software?

Quando falo de software, falo tanto dos programas que fazem o computador funcionar - ou seja, o sistema operacional - como de aplicações do tipo correio eletrônico e outras formas de comunicação, planilhas de cálculo, comércio eletrônico, ferramentas para edição, envio e recepção de fax, autoria de web sites, engenharia, pesquisa, cálculos matemáticos, modelagem, manipulação de imagens e rede.

Falo ainda de aplicações que estão embutidas em uma máquina, como as que controlam a injeção de combustível, operam um telefone ou fazem funcionar uma máquina de lavar.

O que é software livre?

Software livre é software que você pode copiar, estudar, modificar e redistribuir. Estas são liberdades. Não são intrínsecas à tecnologia: existe software que você é proibido de copiar, proibido de estudar, proibido de modificar e proibido de redistribuir.

Se você tem software e é proibido de usá-lo, e esta proibição é estrita, este software não lhe traz benefício algum.

É relativamente fácil copiar e distribuir software que é difícil de estudar e modificar. Isto é feito com freqüência com produtos da Microsoft, mesmo que isto seja proibido.

Você tem muito pouco a ganhar com software que é difícil de estudar e modificar uma vez que você não consegue aprender com ele e tampouco melhorá-lo. De fato, este tipo de software transforma-o em um dependente que não pode aprender ou progredir. No curto prazo, você se beneficia pois pode trabalhar com um computador; é por isto que as pessoas utilizam este tipo de software. No longo prazo, você sai prejudicado pois não progride.

Para ter sucesso, você precisa estudar e modificar software (ou contratar pessoas que façam isto), assim como copiá-lo e redistribuí-lo, e a única forma de garantir este sucesso é através de uma infra-estrutura legal apropriada que lhe garanta estes direitos.

Além disto, software livre sob a licença GNU General Public License (Licença Genérica para o Público, a GNU GPL) impõe a você uma obrigação para a comunidade. Esta obrigação tem amparo legal, assim como é uma obrigação que outros esperam que você cumpra. É seu dever redistribuir consertos e adições que você produziu no trabalho que outros já fizeram para você.
Esta não é uma questão técnica ou de negócio:
o que faz um software livre ao invés de um "software preso" é a infra-estrutura legal e institucional dentro da qual as pessoas trabalham.

Há duas razões para que se prefira software livre ao invés de software de distribuição restrita.

A primeira e mais importante razão é que uma sociedade livre é melhor que outra alternativa. Sua liberdade para criar e usar software faz parte de uma vida em uma sociedade melhor. Você tem o direito legal de escolher um negócio, escolher um fornecedor, escolher software, compartilhar e colaborar com outros.

A segunda razão é que software livre, com o passar do tempo, tende a tornar-se mais confiável, eficiente e seguro. Esta é a razão que acaba por motivar também aqueles que, de qualquer forma, não se importam com seus direitos.

Máquinas não deveriam ter falhas desnecessárias, mensagens de email não deveriam desperdiçar dinheiro de seus destinatários, sistemas de computadores não deveriam ser vulneráveis a simples virus e programas de computadores deveriam fazer o que os usuários querem.

Na prática, a chave para o bom uso de software é a garantia da liberdade. Liberdade em software leva à confiança, eficiência, segurança, preços mais baixos, colaboração e menos barreiras para começar a usar a tecnologia.

Infra-estrutura legal, diferenças ancestrais

A chave, como eu já disse, é a liberdade: o direito legal para copiar, estudar, modificar e redistribuir software. Direitos geram liberdade.
É importante garantir todos estes direitos. Mesmo que você ou outras pessoas tenham algum benefício com dois ou três destes direitos, ao invés de não ter nenhum deles, ainda assim todos deveriam ter todos os quatro direitos. Sem eles você deixa de ter benefícios sociais e técnicos.
Por exemplo, nos Estados Unidos, nos anos 80, eu queria usar um programa de formatação de textos chamado TeX. Entretanto, este programa estava em uma situação legal chamada 'domínio público'.
As pessoas freqüentemente pensam que o 'domínio público' é o melhor de todos. Neste caso, isto significava que qualquer um poderia usar o software.
Esta situação legal de 'domínio público', porém, também permitia que empresas fizessem adições ao software que não disponibilizavam ao público.
Isto queria dizer que eu não poderia formatar e imprimir um livro que um amigo havia criado em seu computador, uma vez que a empresa que aprimorou o programa original para que trabalhasse em seu computador não cooperava com a empresa que aprimorou o programa que eu usava em meu computador. Assim, mesmo que o programa inicial estivesse disponível para o público, ele ficou sem a devida proteção e acabou, afinal, tornando-se inútil.
Afortunadamente, outros pegaram o programa original e o aprimoraram com a devida proteção e agora posso usá-lo novamente.
Você precisa de uma infra-estrutura legal e institucional para protegê-lo e preservar seus direitos. Se você não pode proteger sua liberdade, outros a privarão dela.

Uma vez que você deve lidar com pessoas estranhas, com quem você não tem nenhuma conexão, você deve, se necessário, ser capaz de recorrer à lei. Muitas pessoas são honestas e morais, mas nem todas.
Sem lei, não há sanções práticas. Os agentes da lei devem ser confiáveis, rápidos e honestos. Se a polícia ou os tribunais são injustos, lentos ou corruptos, pessoas, negócios e organizações governamentais irão evitá-los.
Eu tenho uma questão sobre história antiga: há 2.000 anos, na Dinastia Han, havia poucos advogados na China. Esta não era uma profissão honrosa e independente. Mas naquele tempo já existiam advogados no Império Romano. Empresas empregavam advogados para trabalhar por elas buscando acordos em disputas nos tribunais que eram mantidos pelo governo. Daí, as pessoas na Europa começaram a pensar que esta era a maneira pela qual se deveria chegar a um acordo nas disputas.
Entendo que a Dinastia Han também tinha juízes e tribunais e estes trabalharam bem pela manutenção da civilização Han. Não havia advogados que pudessem ser contratados por empresas, e muitas destas empresas não tinham registro. Desta forma, as empresas não utilizavam os tribunais do governo, resolvendo suas disputas de outras maneiras. Daí, as pessoas na China começaram a pensar que esta era a maneira que as coisas deviam ser.
Claro que ocorreram mudanças nos últimos dois mil anos. A Dinastia Han há muito desapareceu, assim como o Império Romano.
Será que alguém na China acha que o uso da lei e licenças é uma forma estranha, e talvez um método estrangeiro para se chegar a acordos em disputas?
Pergunto isto pois o software livre depende da reutilização de leis que eram originalmente concebidas para outros propósitos. A GNU GPL (General Public License), por exemplo, sobre a qual eu falarei em maiores detalhes a seguir, é uma licença de 'copyright' (direito autoral). Ela depende do uso apropriado de tribunais e forças policiais honestas.
Se o Império Romano tivesse computadores e leis de direito autoral, a GNU GPL poderia ter sido usada há dois mil anos para proteger o software livre.
Não acredito, porém, que o software livre estaria protegido durante a Dinastia Han, especialmente se membros do governo não fossem totalmente a favor da liberdade.

GPL, direitos, deveres, detalhadamente
No projeto GNU, nós criamos uma ferramenta legal para proteger e preservar o software livre.
A ferramenta legal é uma licença de direito autoral especialmente modificada, a GNU General Public License.
Essencialmente, esta licença o proíbe de proibir. Ela também proíbe outros de impedir que você atue.
Adicionalmente, a GPL impõe a você uma obrigação. Esta obrigação tem amparo legal e é também uma obrigação que outros esperam que você cumpra. Seu dever é redistribuir o código-fonte que você criou como extensão do trabalho que outros já haviam feito.
Antes de falar de deveres, deixe-me primeiro falar sobre a lista de direitos que acompanham o software livre: seus direitos de copiar, estudar, modificar e redistribuir software livre.
A GNU General Public License lhe dá mais direitos que a licença de direito autoral comum. Por esta razão, a GPL é por vezes chamada de 'copyleft' (esquerdo autoral). Este neologismo depende dos múltiplos significados da palavra 'right' (direito).
Será que as palavras 'direito' e 'esquerdo' em chinês, 'you' and 'zuo' in pinyin levam às mesmas piadas e trocadilhos que em inglês?
Os quatro direitos são copiar, estudar, modificar e redistribuir.

Primeiro, o direito de copiar.
Poucas pessoas possuem ou gerenciam uma indústria que lhes permita copiar um carro. De fato, copiar um carro é tão difícil que nós usamos uma palavra diferente. Nós falamos em 'fabricar' um carro. E não há muitas fábricas de carros no mundo.
Todos com acesso a um computados possuem e gerenciam uma indústria de software, um dispositivo para a fabricação de software, ou melhor dizendo, para fazer novas cópias. Uma vez que copiar software é tão fácil, nós não usamos a palavra 'fabricar'; usualmente nem pensamos nisto como uma espécie de fábrica, mas é.
O direito de copiar software é o direito de usar a sua propriedade, seus próprios meios de produção.
Segundo, o direito de estudar. Este direito é de pouco interesse direto para aqueles que não são programadores. É como o direito que um médico tem de estudar medicina ou o de um advogado a ler livros de legislação. A menos que você esteja nesta profissão, você provavelmente deseja evitar tal estudo.
Entretanto, o direito de estudar tem várias implicações, tanto para aqueles que programam quanto para todos os demais.
O direito a estudar significa que pessoas em lugares como México, Alemanha, ou China, podem estudar o mesmo código que pessoas no Japão ou nos Estados Unidos. Isto quer dizer que as pessoas não são impedidas de descobrir como outros tiveram sucesso.
Tenha em mente que muitos programadores trabalham sob restrições que os proibem de ver o código de outros. Tudo o que eles podem ver são programas-brinquedo de livros-texto de escola, não programas reais.
Há muitos anos, um sábio disse que a melhor maneira de enxergar à frente e avançar era sentando nos ombros de um gigante.

Programadores que não podem ver o código dos outros não se sentam nos ombros de ninguém; eles são jogados na lama. O direito de estudar é o direito de olhar à frente, o direito de avançar.
Mais do que isto, o direito a estudar implica que o próprio software deve estar disponível em uma forma que humanos possam lê-lo.
Software é encontrado em duas formas, uma que pode ser lida apenas por computadores e outra que pode ser lida apenas por pessoas. A forma que o computador lê é aquela que ele executa. Esta forma é chamada 'binária' ou 'executável'. A forma que um humano pode ler é a chamada 'código-fonte'. Esta é a forma que um programador humano cria, e é traduzida por um outro programa de computador para a forma binária ou executável.
(Na verdade, um programador pode ler a forma binária, mas com grande dificuldade; raramente o esforço compensa. Código-fonte é a forma mais prática para humanos.)
O próximo direito, o direito de modificar, é o direito de consertar um problema ou melhorar um programa. Para a maioria das pessoas isto traduz-se no direito que sua organização tem de contratar alguém que possa fazer este trabalho, exatamente da mesma forma que você contrata um mecânico para consertar um carro ou caminhão ou contrata um carpinteiro para fazer algum trabalho em sua casa.
Modificações ajudam. Desenvolvedores de aplicação não conseguem imaginar todas as formas pelas quais as pessoas utilizarão seu software. Eles não tem como prever as novas exigências que serão impostas ao seu código. Não podem adivinhar todas as condições locais, de que forma alguém na China utilizará um programa inicialmente escrito na Finlândia.
Finalmente, destes direitos legais, temos ainda o direito de redistribuir.
Isto significa que você, que possui um computador, uma "fábrica de software", tem o direito de fazer cópias de um programa e redistribuí-lo. Você pode cobrar por estas cópias ou disponibilizá-las sem cobrar nada. Outros podem fazer o mesmo.
Lembre-se que o programa que você redistribui deve estar acompanhado do código-fonte. Redistribuir apenas o código executável permite sua utilização em um computador, mas o impede de fazer qualquer outra coisa. Isto é uma armadilha que leva à dependência.

Quando você cria ou distribui um novo código que conserta ou melhora um programa existente, você passa a ter um dever: distribuir seu novo código-fonte sob a mesma licença do programa existente. Assim, pessoas que usam sua nova versão do programa continuam com os mesmos direitos e a liberdade que tinham quando usavam a versão anterior.
Isto quer dizer que se você consertar o meu código, eu tenho o direito de usar o seu "conserto".

Mencionei antes um programa de formatação de texto chamado TeX. Este programa era de `domínio público', ou seja, não estava coberto por uma licença. Sem licença, não existe obrigação. Descrevi o problema que isto me causou: eu não podia formatar um livro.

Muitos programas, na verdade, têm licenças. Mas algumas licenças não impõem esta obrigação de redistribuir consertos ou extensões.

Estas outras licenças, como a famosa licença BSD, permitem que um indivíduo ou empresa peguem um software que seja livre, consertem algo que não funciona bem ou façam alguma melhoria e então restrinja, quem vai usar esta versão corrigida ou melhorada. O governo dos Estados Unidos criou a licença BSD original. De fato, isto tornou-se uma forma de subsidiar parcialmente monopólios, uma vez que estes receberam código que foi pago pelos contribuintes americanos.

A licença original do Netscape (Netscape Public License) também era desta forma. Você poderia analisar seu código-fonte original, mas se você contribuísse com modificações ou melhorias, a America On Line, empresa que adquiriu o Netscape, tinha o direito legal de apropriar-se de seu trabalho e impedi-lo de valer-se das correções ou melhorias que a empresa fizesse. De uma forma mais simples, eles podiam impedi-lo legalmente de usar um programa com seu próprio código nele!

Enquanto um bom número de pessoas concordaram com esta licença, e disseram que o Netscape era `software livre', outros recusaram-se a cooperar. Eu acho que esta é uma das razões pelas quais o novo browser Netscape, o projeto Mozilla, está tão atrasado: O Netscape perdeu a cooperação das pessoas que precisavam dele no início, talvez a cooperação das melhores pessoas que poderiam ter e que se recusaram a prestar ajuda.
Agora o projeto Mozilla está finalmente dando frutos, e o browser funciona bem, mas imagine se isto pudesse ter acontecido há um ano ou mais.
Eu descrevo tudo isto pois quero mostrar que a obrigação é tão importante quanto os direitos. Para ter sucesso, uma empresa deve contribuir com a comunidade ao mesmo tempo que se apropria de idéias desta comunidade.
E é apenas através da lei que podemos garantir que todos cumpram os seus deveres.

Competição e colaboração em um mercado livre

O direito de redistribuir, uma vez defendido e mantido, significa que o software é vendido em um mercado competitivo e livre. Isto tem várias conseqüências. Preço baixo é uma delas. Isto ajuda os consumidores.
Antes disto, e mais importante, é que estes direitos legais e econômicos levam à colaboração e à divisão.
Este é um resultado que é contrário às expectativas de muita gente. Poucos esperam que em um mercado livre e competitivo, cada produtor se tornará mais colaborativo e que compartilhe seu conhecimento. Poucos conseguem ver que nenhuma competição será sentida, ou visível, entre homens de negócios competitivos.

Vou levar alguns minutos para explicar isto, pois é importante.
Quanto mais competitivo o mercado, mais cooperação acontece. Esta implicação aparentemente contra-intuitiva é ao mesmo tempo observada e comprovada.
O compartilhamento acontece quando pessoas não são prejudicadas quando fazem aquilo que querem. As pessoas gostam de ajudar seus vizinhos.
Considere um pequeno fazendeiro, um entre um milhão. Meu amigo George, lá nos Estados Unidos, é um deles.
Sua colheita é tão pequena que de nenhuma forma ele consegue afetar o preço mundial. Seu vizinho está na mesma situação.
Conseqüentemente, se George ajuda seu vizinho, seu vizinho se beneficia, e o George mesmo não perde absolutamente nada no preço de venda de sua colheita.
Uma vez que o George não irá se prejudicar, ele tem todas as razões para ajudar seu vizinho. Isto não quer dizer apenas que o George é só bonzinho: ele também reconhece que quando ajuda seu vizinho, seu vizinho provavelmente irá devolver o favor.
Isto é o que você vê em um mercado livre e competitivo: cooperação.
Uma competição visível indica que o mercado não é completamente livre e competitivo. A competição visível significa que o mercado é no máximo "semi-livre".

Mais uma vez - e isto beneficia pessoas que não são programadores - se software é vendido em um mercado livre, a competição entre os fornecedores irá levar a uma redução de preços.
Analisando de outra forma, o preço do software é determinado primariamente por considerações legais: o grau de liberdade que tem os consumidores.
Se os consumidores são proibidos de comprar um produto, a não ser que por um alto preço, e esta proibição é eficaz, o produto será caro.
Isto é o que acontece com muitos softwares proprietários hoje.
Por outro lado, se o software é vendido em um mercado livre, a competição entre os fornecedores irá levar a um preço mais baixo.
Isto significa que por si só, o software, uma porção que é necessária tanto para uma empresa como para um projeto comunitário, será tanto barato como legal.
Pense nisto do ponto de vista de uma empresa ou de um grupo mantido por uma comunidade. A organização pode usar software proprietário, de distribuição restrita, pagando por isto uma quantidade de dinheiro que não possui, ou ir contra a lei e roubá-lo.
Devo mencionar que se um país é considerado um fracasso comercial, e é provável que continue como tal, ninguém irá tentar conter a distribuição ilegal. Conheço uma pessoa na África que diz que a República de Camarões é assim. A China é diferente. Já foi considerada um fracasso comercial, mas hoje várias empresas nos Estados Unidos a vem como um sucesso. Tais empresas, portanto, estão pressionando o governo americano a persuadir o governo Chinês a adotar leis contra a distribuição ilegal. Em algum momento, o governo Chinês terá que fazer valer estas leis para satisfazer empresas como a Microsoft e outras similares, ou sofrerá sanções comerciais.
Por outro lado, software livre é barato e legal. É mais acessível. Pode também ser modificado e adequado de forma que o software restrito não pode ser. Isto dá poder.

Como eu disse antes, nós damos forma ao desenvolvimento desta tecnologia, criando colaboração através do uso de uma ferramenta legal, uma licença que lhe dá mais direitos que você teria de qualquer outra forma. Esta licença o proíbe de proibir e lhe dá o direito de copiar, estudar, modificar e redistribuir o software.
Por causa das liberdades associadas a ele, este tipo de software é chamado `software livre'.
Enquanto falo sobre isto, deixe-me esclarecer uma questão vernacular que causa alguma confusão entre os que falam inglês.

Significados da palavra `free'

O preço baixo do software livre (free software) leva algumas pessoas de língua inglesa a pensar que a palavra `free' na expressão `free software' quer dizer que você pode obter o software sem custo. Esta não é a definição, que tem a ver com liberdade (freedom), mas é um desentendimento comum. Afinal, estou falando até agora do uso frugal de um recurso - o software - que é barato.

A palavra em inglês `free' tem muitos significados. Um amigo mexicano - e também o líder de um grande projeto em software livre - disse-me uma vez:

A língua inglesa é defeituosa, ela não distingüe a diferença entre `free beer' (cerveja de graça) e `free speech' (liberdade de expressão).

A língua portuguesa, por outro lado, faz distinção entre `grátis' e `livre'. Quando você fala de `free beer' você está se referindo a cerveja grátis, mas quando você fala sobre `free speech' você está se referindo à liberdade.

Free software é software `livre'.
Incidentalmente, Eric Raymond e Bruce Perens inventaram o termo `open source' (código aberto) há alguns anos, como um sinônimo de `software livre'. Eles queriam uma expressão que fosse ao encontro do fato de que muitas empresas não gostam de mercados livres. A expressão `open source' tornou-se popular, assim Eric e Bruce tiveram sucesso em seu intento.
Ainda assim, prefiro o termo `software livre' uma vez que este representa melhor o objetivo da liberdade, a proposição de que todo homem e mulher têm o direito a trabalhar e não podem ser proibidos de fazer isto.

Metáforas que explicam o novo usando o velho

Que tecnologia é esta a qual pessoas têm direitos, ou deveriam ter direitos? Permita-me explorar esta questão com maior profundidade discutindo a forma pela qual as pessoas pensam de um dos aspectos de computadores e softwares: a Internet.
Quando discutimos tecnologia, podemos usar metáforas que nos permitem comparar tecnologia mais usual e antiga com uma tecnologia nova e menos usual.
Nos Estados Unidos, a metáfora mais comum para explicar a Internet é a expressão `Information Highway' (A auto-estrada da informação). Não sei se esta metáfora é tão comum em outras partes do mundo. Se não é comum, ainda assim pode ser importante aprendê-la, pois você terá que lidar com americanos cuja forma de pensar formou-se a partir desta metáfora, e estão errados algumas vezes.
A metáfora da `Information Highway' toma o conhecimento que as pessoas têm de auto-estradas e os convida a aplicar este conhecimento a um artefato novo e desconhecido para muitas pessoas: a Internet.
Na Dinastia Tang, há 1.500 anos, eu podeira ter usado a metáfora do `Canal de Informação' uma vez que o Grande Canal havia acabado de ser aumentado e uma série de outros pequenos canais foram construídos.

O que esta metáfora diz às pessoas? Em primeiro lugar ela diz que a Internet está do lado de fora de suas casas ou escritórios. Ela não está dentro.
Parcialmente, esta é uma analogia útil, uma vez que você precisa obter acesso à Internet através de um telefone, cabo, ou outro dispositivo de comunicação. De forma similar, você precisa construir um acesso de sua casa até a estrada para ter acesso a ela. A metáfora, porém, não ajuda se você vive em um prédio de apartamentos próximo a uma auto-estrada (ou a um canal).
Além disto, esta metáfora não diz que você pode ter acesso a computadores remotos a partir de sua casa ou escritório. Ela não alerta para o fato que, quando eu estou na Alemanha, posso ter dúvidas sobre estar usando uma máquina do outro lado do oceano Atlântico, nos Estados Unidos, ou outra a apenas algumas centenas de quilômetros, em algum outro lugar da Europa.
Esta metáfora também não lhe diz que você pode criar uma rede local segura que se espalha através de diferentes nações e oceanos. Esta possibilidade é importante tanto para negócios em expansão quanto para a sociedade civil.
Enquanto a metáfora ainda diz corretamente que conexões na Internet podem ser intrinsecamente lentas, como em uma estrada secundária, ou sofrer congestionamentos na hora do rush, ela leva a crer erroneamente que a Internet toma uma grande quantidade de espaço que poderia ser usado para outras coisas, talvez novos parques na cidade.
A metáfora sugere que o espaço no qual a informação reside é limitado da mesma forma que o espaço confinado nos limites de uma cidade. A metáfora da `Internet como uma Auto-Estrada' não leva as pessoas a pensarem no espaço necessário para a informação da mesma forma que os holandeses pensam na Holanda: um espaço de terra que já tem seus limites.
A metáfora esconde características úteis.
Uma segunda metáfora é a do `Shopping Eletrônico'. Esta diz a você que o propósito da Internet é prover um lugar para compras, e também diz que investidores privados pagarão para construir tal `Shopping'.
Esta metáfora sugere que o mercado irá precisar de regulamentação do governo e liberdade, uma vez que não é possível que existam mercados grandes e eficientes sem regras e liberdade. Ela também sugere que haverá grandes oportunidades para roubo, legisladores corruptos, negócios de pai-pra-filho e outras negociatas.

Uma terceira metáfora é a de que a Internet é uma `Grande Biblioteca'. Você pode buscar e encontrar informação. De fato, descobri que as pessoas freqüentemente usam a Internet mais como uma `biblioteca de referência' do que uma biblioteca real.
A metáfora da `Internet como uma Biblioteca' nos diz que muitas pessoas podem rever a mesma informação, assim como também muitos `usuários da biblioteca' podem tomar emprestado o mesmo livro. Isto é importante para aqueles que preocupam-se com sua economia financeira.
Mais ainda, a metáfora faz com que você anteveja uma grande quantidade de pesquisa; muitas delas com foco na mesma e pequena lista de tópicos e outras, aunda em grande quantidade, terão foco em assuntos que você jamais imaginou. Isto tem ramificações críticas, tanto no campo de negócios como político.
Mais importante, porém, é que além do prazer que uma biblioteca proporciona, uma grande biblioteca permite as pessoas o aprendizado, e possivelmente evita que erros se propaguem. Uma vez que se aprende com um erro e este erro se torna conhecido, não há a necessidade de repetí-lo, aumentando a possibilidade de sucesso!
Software embarcado é o software que está em uma máquina de lavar, em um avião ou caminhão. Ele não tem a mesma visibilidade que a Internet. Ainda que eu esteja falando primariamente da Internet, vamos mudar nossa atenção para um outro assunto por um momento.
As pessoas usam uma metáfora para entender melhor o que é software embarcado. Com muita freqüência, a metáfora envolve um homenzinho dentro da máquina de lavar ou do motor do automóvel, manipulando controles e alavancas.
Esta metáfora tem seu valor no sentido em que diz que uma máquina pode responder a novas condições de formas pelas quais não poderia fazer antes. Esta metáfora é perigosa no sentido em que pode levar a acreditar que uma máquina é capaz de fazer tanto quanto humano, mas ela não pode.
Estas metáforas, limitadas e problemáticas como são, dizem respeito a ferramentas que utilizam software.
Voltemos à metáfora da `Auto-Estrada da Informação': esta metáfora nos fala sobre estradas esburacadas e pontes frágeis. Nos queremos que nossas redes eletrônicas sejam confiáveis. Auto-estradas atraem fugitivos, ladrões. Queremos que nossa comunicação eletrônica seja segura. Auto-estradas custam dinheiro. Queremos que nossa comunicação eletrônica faça uso eficiente de nossos recursos.

De uma forma bem prática, o software livre traz todas estas características: confiabilidade, segurança e eficiência.
A metáfora do `Shopping Eletrônico' nos fala sobre roubo. Afinal, lojas são roubadas.
Esta metáfora também nos fala sobre a importância da confiança em transações comerciais, e que nosso dinheiro deve ser valorizado. Nos fala sobre questões de privacidade e oportunidades para a formação de monopólio.
Liberdade traz segurança, formas confiáveis de necociar, a possibilidade de privacidade e proporciona a infraestrutura para um mercado livre e competitivo.
A metáfora `Biblioteca' nos leva a crer que teremos um pequeno conjunto de `sites mais visitados' e um grande conjunto de `sites raramente visitados'. Ela nos diz que pessoas vão querer aprender sobre antigas lições. As pessoas querem o poder que vem do conhecimento. A metáfora também nos diz que economias privadas podem ser muito limitadas para gerar o total e amplo benefício social e econômico que bibliotecas podem trazer.
The metaphor of the `Library' tells us to expect a small set of `most visited' sites, and a large set of seldom visited sites. It tells us that people will want to learn about the oddest lessons. People want the empowerment that comes from knowing. The metaphor also tells us that private funding may be too limited to generate the full range of social and economic benefits that libraries can bring.
Em essência, estas metáforas nos conduzem a lições que foram aprendidas de outras tecnologias. As metáforas nos contam o que quer que desejemos.
Liberdade em software, o direito de copiar, estudar, modificar e redistribuir lhe traz resultados. Estes direitos incorporam-se na tecnologia, desde que moldados pela licença livre apropriada.

História

A seguir, quero falar brevemente sobre a história do software livre. Como chegamos até aqui?
Isto não é história antiga, é recente. É importante pois nos explica como viemos a inventar a licença pública genérica (GNU GPL - General Public License), como a liberdade significou sucesso ao invés de fracasso e como o `Linux' surgiu.
Originalmente, todo o software era livre. Isto quer dizer que os programadores tinham o direito legal de copiar, estudar, modificar e redistribuir software. De fato, no início, você não poderia ter direito autoral sobre um programa de computador ou patentear sua base matemática. Segredos de negócio não eram um ônus.
Nos anos 70 e início dos anos 80 tornou-se legal para empresas nos Estados Unidos passarem a ter direitos autorais (copyright) sobre programas de computadores, assim como patentear procedimentos matemáticos. Fornecedores de software deixaram de forncer código-fonte.
No início e meados dos anos 80, estes acontecimentos inspiraram Richard Stallman e outros (inclusive eu) a começar o projeto GNU criando um sistema operacional e aplicações associadas de código aberto, que pudessem ser livremente redistribuídos.
Nós conseguimos fazer isto pois tínhamos o direito legal de inventar uma licença, a GPL. Sob a lei, caso você use nosso trabalho, ou se você corrigir ou melhorar nosso trabalho, você deve concordar com as condições estabelecidas por nossa licença. As condições que especificamos na GNU-GPL dão a você os direitos de copiar, estudar, modificar e redistribuir o software, e a obrigação de disponibilizar suas modificações sob a mesma licença (caso você deseje disponibilizar suas modificações: se você quiser mantê-las apenas para seu uso pessoal, você não está obrigado a distribuir o código-fonte).
Claso que se você não gostar dos termos da nossa licença não precisa usar nosso software.
No início dos anos 90 as peincipais partes do projeto GNU estavam completas. Havíamos escrito a maior parte do software necessário.
Entretanto, o trabalho em uma peça fundamental estava atrasado. A Free Software Foundation (FSF) estava desenvolvendo um núcleo (kernel) altamente avançado apra o sistema operacional. O kernel é o software que organiza as operações da unidade central de processamento e faz uma série de outras tarefas importantes.

Se este fosse um projeto de distribuição restrita, ele teria fracassado totalmente, como tantos outros, mesmo que mais de 7/8 dele estivesse completo, testado, e em uso em outros sistemas.
Mas este era um projeto em software livre, e Linus Torvalds, um jovem finlandês, foi capaz de - legal e praticamente - escrever o seu próprio kernel, ainda que menos avançado. Linus deu a este kernel o nome de Linux e adotou os programas GNU que já haviam sido escritos: o ambiente GNU. Ele também adotou a licença pública genérica GNU (GNU GPL), o que tornou livre a redistribuição de sua contribuição.
A combinação do ambiente GNU e do kernel Linux levou a um sistema operacional útil e a um conjunto de aplicações chamada GNU/Linux, um nome que freqüentemente é abreviado simplesmente para Linux.
Nos últimos anos, o GNU/Linux tornou-se largamente conhecido.

O que a liberdade nos traz... em termos de software

Por que esta tecnologia teve sucesso? Por causa dos benefícios advindos da liberdade.
O que a liberdade nos traz?
Não tenho muita experiência com sistemas que caem, a não ser por uma falha de hardware, quando estou testando algum software experimental ou quando o marido de minha irmã está trabalhando com eletricidade no andar de cima e acaba derrubando todos os disjuntores.
Programas são entidades complexas. Eles tem milhares ou milhões de componentes. Uma vez que estes componentes são objetos matemáticos, ou seja, números e símbolos, estes componentes não irão, e não podem, quebrar, da mesma forma que o número `3' não pode se quebrar. Mas estes componentes podem ser combinados de forma errada, ou você pode adicionar componentes incorretos ou deixar de incluir algum componente necessário. Tais coisas podem causar problemas.

Uma das vantagens do software livre é que muitas pessoas -- três, quatro, dez, algumas vezes mais, algumas vezes centenas -- analisam o código. E quando alguma coisa dá errado, estas pessoas podem tomar alguma ação corretiva.
Muitos olhos trazem os problemas a tona (many eyes make all bugs shallow).
Isto quer dizer que uma das muitas pessoas que analisam o código vão reparar no problema. Ele vai ser resolvido. Todos querem e são recompensados por um código bem e funcional. O usuário não quer problemas e o programador não quer uma má reputação. Ele quer uma boa reputação.
Como contraste, uma empresa de software proprietário que vende atualizações terá um incentivo financeiro ao deixar ao menos alguns problemas no código. Estes problemas também são o incentivo para que os usuários comprem as atualizações.
Acho estranho alguém comprar um software caro e cheio de problemas, mas isto acontece. Eles não conhecem alternativas ou imaginam que continuar com o que têm é menos difícil do que trocar por outra coisa.
Uma característica notável do software livre é que muitas aplicações rodam bem em máquinas mais antigas e menos capazes. Por exemplo, há alguns meses eu usava um gerenciador de janelas, um browser gráfico e um programa de manipulação de imagens no velho 486 da minha irmã. Tudo funcionava bem.
Editores de texto, correio eletrônico e planilhas de cálculo necessitam de menos recursos ainda.
Esta frugalidade permite que pessoas usem equipamentos antigos.
Ao mesmo tempo, os fabricantes estão construindo computadores modernos, topo de linha, que fazem as mesmas coisas que os mais antigos e não custam tão caro.

Não há necessidade de adquirir hardware caro para executar seu software.
Cada vez mais, o software livre segue padrões frugais. Você não tem que desperdiçar o dinheiro de seus correspondentes enviando a eles e-Mails sobrecarregados.
Há algum tempo recebi um e-Mail que levou mais de quatro vezes e meia o tempo que seria necessário para que eu obtivesse a informação.
Da próxima vez que você for dimensionar um projeto, considere pagar quatro vezes e meia o seu custo. Então considere de onde você vai tirar o dinheiro para pagá-lo.
Da próxima vez que você for a um restaurante, pague quatro vezes e meia mais do que o valor da refeição...
Para mim, o recurso que utilizo não é um problema, pois não pago pelo minuto da linha de telecomunicações, como muitos fazem. Mas sei que meus correspondentes ao redor do mundo preferem que eu tome cuidado em minhas mensagens para que eu não desperdice seu dinheiro ou das instituições que lhes dão suporte.
Seu trabalho deve ser seguro. Seu computador deveria evitar o que você não quer.
Recentemente, por exemplo, um grande número de pessoas que usam software proprietário da Microsoft foram prejudicados por um vírus chamado `I Love You' ou `Love Bug'. O fornecedor havia criado um sistema estupidamente vulnerável.
Claro que você pode tornar o software livre igualmente vulnerável, da mesma forma que você pode abrir a porta de sua empresa ou de sua casa e convidar os ladrões a entrar. Nenhuma das distribuições de software livre que eu conheço, porém, são tão vulneráveis. Isto ocorre porque as pessoas querem evitar problemas e insistem que seus fornecedores as protejam.

Você tem que ter confiança em sua privacidade.
Claro que os fornecedores de software livre nem sempre tem sucesso, mas de maneira geral, eles têm.

O que a liberdade traz ... para consumidores e empresas

Liberdade significa que você, como consumidor, pode escolher entre aqueles que fornecem software e serviços associados. Você não está em uma situaçao do tipo `é pegar ou largar'. Você pode escolher de quem quer comprar.
Ainda que paradoxalmente, esta possibilidade de escolha também é boa para os fornecedores. Sim, também é mais fácil de perder um consumidor.
Mas isto também significa que os consumidores não se sentirão ameaçados de trabalhar com pequenas empresas com as quais simpatizam mas imaginam que podem desaparecer em cinco ou dez anos; eles podem trocar de fornecedor sem problemas. Mas também ouvi o contrário: há o consumidor que decide evitar uma determinada empresa com receio que ela vá desaparecer em dez anos e trocar de fornecedor pode ser muito caro.
Da mesma forma, se os consumidores podem abandonar com facilidade um fornecedor, os empregados do fornecedor sabem que se os consumidores permanecem fiéis é porque gostam das soluções que a empresa para a qual trabalham vende. Os empregados gostam disto pois isto lhes mostra que estão fazendo um bom trabalho. Os donos da empresa, algumas vezes, também gostam disto, uma vez que gostam de saber que estão vivendo moralmente.
Liberdade significa que você, como um homem de negócios, tem o direito legal de criar uma empresa. Licenças caras não o impedem de fazer isto. Não há nada que o proíba.
Da mesma forma, como um consumidor, você pode usar o código.

Liberdade significa que os negócios são recompensados, com vendas e lucros, por satisfazer lega,mente seus clientes, ao invés de recompensados por sobrecarregar nos preços e prejudicar os consumidores, o que é ilegal, ao menos nos Estados Unidos.
Uma rápida divagação aqui: software restrito muitas vezes significa que você é proibido de iniciar uma empresa. Miguel de Icaza, que começou um grande projeto internacional no México, jamais poderia tê-lo feito com software restrito. Ele era proibido de utilizá-lo.
Uma vez que software livre é vendido em um mercado competitivo, seu preço é baixo. Isto significa que ninguém vende software desta forma. Ao invés disto, vendem-se serviços ou hardware, como a IBM faz, por exemplo.
O sucesso depende da satisfação de seus clientes. Isto faz mais felizes tanto seus empregados como seus clientes.
Falemos um pouco de fiscalização, que é o que garante que o software não seja usado ou copiado ilegalmente. Geralmente, a palavra `fiscalização' é evitada. Ao invés disto é comum ouvir `Concordância com a Licença' ou algum termo equivalente. Há algum tempo, a empresa que me fornece energia elétrica contratou um `Gerente de Concordância com Licenças' (License Compliance Manager) cujo trabalho era garantir que os engenheiros da empresa não levassem para casa seu trabalho, uma vez que o mesmo poderia estar associado com software que não deveria sair das instalações da empresa. A fiscalização é cara e desagradável.
Primeiro, e acima de tudo, a liberdade em software cria um mundo onde o software faz o que você quer.
Se você não encontrar uma aplicação que faça o que você quer, você pode escrever seu próprio código, ou contratar alguém para fazê-lo.
Você tem o direito legal, e com o código-fonte pode exercer na prática este direito de adaptar outros códigos para fazer o que você deseja -- isto é, com freqüência, mais eficiente do que escrever algo a partir do zero.
Ou, se você não quiser ou não puder gastar dinheiro ou recursos, você pode dar uma procurada que, quase certamente, você vai descobrir que alguém passou por um problema similar ao seu, e usar o trabalho desenvolvido por esta pessoa.

O que a liberdade traz ... limitações

Mas a liberdade pode não trazer tudo o que você precisa. Algumas vezes, você pode não encontrar o programa que faz o que você quer.

Particularmente, precisamos desenvolver completamente um software de registro de livros contábeis.

Quando eu falei pela primeira vez sobre contabilidade, não existia nenhuma oferta de software para isto. Agora existe -- conheço dois produtos -- mas ainda precisam ser aprimorados.

Software livre pode ser usado em qualquer parte do mundo mas freqüentemente não o vemos sendo utilizado onde poderia.

Há sucessos: serviços baratos de e-Mail no Timor Leste, um hospital usando sistema livre para o gerenciamento de informações médicas na Guatemala. (N do T: na ocasião em que escreveu este artigo, Bob ainda não estava a par de nossos casos de sucesso no Brasil).

Mas com freqüência, você vê pessoas usando ferramenta as quais estão proibidas de estudar, aprender, modificar ou personalizar. Estas ferramentas, como eu disse antes, resolvem um problema, mas os usuários não têm nenhum poder sobre elas.

O que a liberdade traz ... conseqüências éticas

O software livre pode ser legalmente compartilhado. Esta é uma questão ética. Você deseja encorajar que pessoas compartilhem as coisas? As escolas devem ensinar as crianças a serem egoístas, como pedem as leis que tratam de software restrito?

Na prática, as crianças gostam de compartilhar. Eles querem ajudar seus amigos. E também como uma questão moral, as pessoas querem que as leis sejam obedecidas, mesmo que alguns não as obedeçam.
Desta forma, um governo deveria garantir que seguir a lei é o melhor, tanto por questões legais como morais e práticas.
Deixe-me voltar à questão da liberdade:
A liberdade deixa você livre para compartilhar;

Você tem o direito legal de ajudar os outros;

Você tem o fireito legal de colaborar;

Você pode ensinar seus filhos a compartilhar o software que possuem, legalmente.
As pessoas que usam apenas pacotes de software executáveis (binários) estão proibidos de estudá-los, de aprender com eles, modificá-los ou personalizá-los. Eles não tem nenhum poder sobre o software, exceto no fato em que o software lhes resolve um problema.
O software livre garante mais do que a solução para um problema: ele garante meios para que as pessoas aprendam e se tornem tão boas ou mesmo melhores que os programadores que escreveram originalmente o software.

O software livre dá poder a pessoas que eram mantidas fora do circuito.

Escolas

Antes de falar sobre modelos de negócios, permita-me falar brevemente sobre Escolas.
Estudantes em uma Escola gostam de dar cópias de programas a seus amigos. Freqüentemente, isto é ilegal. A distribuição de um programa é restrita e a Escola e as crianças supostamente devem insistir que seus amigos, ou a própria Escola, siga adquirindo cópias adicionais dos programas.
Se você é um estudante, professor, ou administrador de uma Escola, você pode gastar uma grande quantidade de tempo tentando fazer com que a lei seja cumprida.
A alternativa é ensinar seus estudantes a desobedecer a lei. Isto é comum, mas é uma maneira triste de educar uma sociedade.
Mesmo que as pessoas não possam obedecer a lei, elas sempre esperam que seus prximos a obedeçam e sejam honestos.
A solução é adotar software livre. Desta forma, você pode encorajar seus estudantes a darem cópias uns aos outros, ao mesmo tempo em que os encoraja a seguir a lei.
E certamente, você pode encorajar seus estudantes a estudar o software que eles têm.

Estudantes podem aprender a programar, a manter sistemas funcionando, e podem aprender a aprender, o que é muito importante em um mundo em constante mudança.

Vantagens para os negócios

Agora gostaria de falar sobre negócios e software livre.
Primeiro, um pouco de história:
O software livre não impõe nenhuma barreira legal em seu uso. Mercados livres implicam em software que não é caro. Estes fatores combinados significam que o software livre reduz a `barreira de entrada' que freqüentemente impedem ou dificultam a pessoas na criação de uma empresa.
Além de reduzir as dificuldades para o surgimento de novos negócios, o software livre reduz seus custos de operação. Em um exemplo que citei anteriormente, muitos de meus correspondentes pagam o custo de suas linhas de telecomunicação por minuto. Eles (ou as empresas para as quais trabalham) pagam mais por mensagens longas do que pelas curtas. Eles preferem que eu lhes envie e-Mail em texto puro, o que não é só um padrão internacional mas também economiza seus recursos.
No aspecto gerencial, é mais fácil tratar um negócio em software livre do que um que restrinja a distribuição do software.
Em primeiro lugar, o software livre requer menos fiscalização do que o software proprietário ou restrito, uma vez que o produto é vendifo em um mercado livre e competitivo onde nenhuma restrição artificial é necessária. Você não tem que fazer lobby junto ao governo para regular a política de preços de software: o mercado se encarregará disto.
Você terá, é claro, que persuadir seu governo a fazer valer as leis relativas à licença de software livre. Caso contrário, outros podem se apropriar de seu trabalho sem que você receba nada em troca. Eles deixarão de cumprir seus deveres com você.

Em segundo lugar, o software livre vai requerer que o foco de sua empresa esteja na venda de soluções para seus clientes, e não na sua fiscalização.
Isto signufica que você pode simplificar a comunicação com seus empregados. Você pode dizer a els que seu trabalho é criar soluções que vendam bem.
Caso contrário, você terá que levar a eles uma mensagem confusa, dizendo que seu trabalho é criar soluções que vendam e também fiscalizar pessoas que desejam usar suas soluções e não estejam autorizadas a fazê-lo.

O `engano de produção'

Agora deixe-me falar sobre um engano -- um engano que espero que você possa evitar.
A própria idéia de que você deveria vender software é um `engano de produção'. Este é um modelo de negócios. É uma decisão de tocar um negócio de maneira em que o software que você distribui é similar a sapatos ou caminhões. Com apoio da fiscalização legal, como acontece nos Estados Unidos, as empresas podem seguir este modelo de negócios. Isto é um erro.
Software não é como um sapato ou um caminhão que é produzido e então vendido.
Na prática, cerca de 3/4 do custo de um típico pacote de software aparece depois que o mesmo é inicialmente lançado. Estes são custos de `manutenção': os custos de adaptar o software existente a um novo hardware, os custos de analisar seus problemas e os custos de ampliá-lo para atender novas necessidades.
Uma pessoa que adquire um programa de computador não o quer apenas da forma original, como se fosse um caminhão ou um sapato. O usuário quer as versões cujos problemas são corrigidos, as versões ampliadas.

O `engano de produção' faz com que o software seja vendido a um preço inicial alto, como se fosse um caminhão ou um sapato, e então fornece versões corrigidas e melhorias a um custo adicional baixo, ou sem nenhum custo. Isto leva ao desastre.
Um motivo para isto é que os donos da empresa de software notam que correções e melhorias oneram a empresa, ao invés de gerar lucros. Assim, eles cortam em correções e melhorias. Ao invés disto, eles encorajam sua equipe a se concentrar nas vendas iniciais para gerar lucros. Isto faz com que os clientes antigos sintam-se prejudicados e passem a comprar de um concorrente que oferece um produto similar que seja melhor.
Uma vez que é fácil produzir novas cópias de um software, a empresa concorrente irá reduzir seus custos para atrair pessoas a seu produto.
Os consumidores só mantem sua fidelidade a uma empresa quando sentem que não há escolha: eles serão fiéis enquanto sentirem que o custo para mudar de fornecedor é mais alto do que permanecer com o mesmo.
Isto significa que uma empresa de sucesso deve tornar-se um monopólio, levando todas as outras a abandonarem o mercado, ou ao menos, tirar um número suficiente de competidores fora do mercado para que os consumidores sintam que não podem escolher entre fornecedores diferentes.
Claro que também a empresa deve garantir que ninguém mais produza CDs com software neles. Assim, um monopólio de sucesso deve persuadir o governo de seu país a usar tribunais, polícia e acordos internacionais para prevenir o que eles chamam, dramaticamente, de `pirataria de software'.
Nos Estados Unidos, como mencionei anteriormente, a empresa que me vende energia elétrica contratou um `Gerente de Concordância com Licenças' (License Compliance Manager) para garantir que seus engenheiros não levem o trabalho para suas casas. Se eles levassem o trabalho para casa, eles levariam também o software. E se eles levassem o software, a empresa poderia ser responsabilizada em um tribunal por quebrar sua licença de uso de software. É mais barato para uma empresa contratar sua própria polícia do que acabar em um tribunal.
Eu pago por esta polícia quando pago por minha eletricidade.
O `engano de produção' leva todos à catástrofe, exceto o monopólio de sucesso.

The `manufacturing delusion' leads to catastrophe for all except the successful monopolist.

Por que entrar no mercado de software?

Uma vez que a concorrência em um mercado competitivo força a uma redução de preço do software, ninguém deveria entrar neste mercado para vender software como tal. Ao invés disto, uma empresa deveria entrar neste mercado para ganhar dinheiro de outras formas.
Em um mercado de software livre, empresas e pessoas dificilmente vendem mesmo o software -- alguns fabricantes vendem CDs com software, mas a preços razoáveis. O que acontece é que as pessoas vendem serviços associados ao software, hardware e soluções.
De que tipo de serviços estou falando? Mais diretamente, ajudando a usar um computador, ou, sendo ainda mais específico, ajudando a configurar uma rede sem fios, ou ajudando a criar e manter bases de dados.
Menos diretamente, de uma forma crescente, empresas tão diversas de hardware que vendem, por exemplo, telefones ou instalações de desmineralização, adicionam software a seus produtos para torná-los mais atrativos a seus clientes.
O negócio mais comum em software é o suporte: apresentar pessoas a computadores, ensiná-los a usar os computadores, resolver os problemas que surgem, adaptar o software a condições locais, e assim por diante.
Distribuições de software livre incluem programas para a comunicação segura por e-Mail, publicações, acesso à Internet, controle financeiro, e outros.
Treinamento e suporte incluem estes produtos, assim como ajudar pessoas a manipular imagens, implementarem servidores para a Web ou tocar um portal de comércio eletrônico. A distribuição Debian de software livre GNU/Linux tem mais de 4.000 pacotes de software.

Modelos de negócios.

Agora falarei brevemente sobre vários modelos de negócios.
Primeiro, a venda de treinamento. Nem é preciso dizer que um governo poderia pagar por este tipo de treinamento, e alguns fazem isto. Mas estou falando aqui do tipo de educação pela qual as próprias pessoas pagam.
Notoriamente, serviços privados de educação e treinamento dão um rápido retorno e lucros para aqueles que entram cedo no mercado. (Eventualmente, a facilidade de entrada neste tipo de negócio acaba significando uma quantidade de oferta que leva a uma queda dos lucros.)
Um segundo modelo de negócios é resumido pela frase `Dê aparelhos de barbear, venda as lâminas de barbear'. Esta frase descreve o modelo de negócios que a Gilette adotou há um século para suas lâminas. Eles não necessariamente distribuiram gratuitamente seus aparelhos de barbear, mas os venderam com perdas, e passaram a fazer dinheiro vendendo lâminas de barbear. E ainda vendem. Eu mesmo paguei à Gilette mais por suas lâminas de barbear do que pelos aparelhos.
Isto é uma das coisas que faz nosso patrocinador, Ron's DataCom. Ele vende o valor inerente ao fornecimento de um sistema completo de software.
A Ron's DataCom e outras empresas de software livre, como a RedHat, também usam o software com um `Atrativo de Mercado': o software leva a eles pessoas que compram seus outros serviços. Este é um terceiro modelo de negócios.
Empresas de software livre vendem uma marca, como EasyLinux ou RedHat -- isto quer dizer que seus clientes pagam pelo fornecimento de um produto confiável. Isto depende, é claro, da manutenção de uma conhecida e boa reputação.
As empresas podem fazer isto de duas maneiras: uma, bastante óbvia, é vender uma distribuição de software. Os clientes sabem que a empresa selecionou o software e fez um bom trabalho, assim o cliente não tem que se preocupar com isto.

Uma segunda maneira, mais sutil, é vender uma marca ou uma certificação: isto garante aos clientes que algum outro produto, que leva a marca ou é certificado pela empresa que possui a marca, também é bom.
A FSF-CHINA, por exemplo, está pensando em fazer o seguinte: estudantes devem concluite exames para ganhar um certificado de sua competência.
Além de vender serviços, uma marco, ou o valor inerente a um sistema completo, empresas podem vender outro tipo de produtos. Nós chamamos este quarto modelo de negócios de `Venda conjunta'.

Um tipo de produto é aquele que vai junto com, ou que explica um determinado programa. A O'Reilly, por exemplo, vende livros de informáica.
De forma análoga, um fabricante de computadores pode montar uma máquina ou recondicionar um equipamento antigo e carregá-lo com software livre barato, e já adaptado ao seu sistema.
(Novamente, aqueles que entram cedo neste mercado conseguem realizar bons lucros antes do mercado amadurecer.)
(Again, early entrants can make large profits, before the industry matures.)
`Widget Frosting' (confeitando a quinquilharia) é o nome de um quinto modelo de negócios, similar à `Venda conjunta', com a excessão de que o produto vendido é mais importante do que o sofware.

Em ingles, `widget' é um objeto, um produto não especificado. `Frosting' são as coisas com as quais você cobre um bolo, tornando-o mais bonito e apetitoso. `Widget Frosting' é o processo de tornar um produto mais desejável aos consumidores.
Se você vende um cartão de rede Ethernet ou outra expansão de hardware, você quer que seu produto funcione em todo o lugar. De outra maneira, você estaria tornando seu mercado reduzido por nenhuma boa razão. Uma maneira de expandir seu mercado é tornar livre o software que acompanha o seu produto, desta forma, outros podem fazer adaptações e usar o seu hardware em outros equipamentos, conquistando vendas para você.
Em maior escala, a IBM, uma grande corporação, descobriu que alguns de seus clientes recusavam-se a comprar dela computadores maiores e mais caros, mesmo quando precisavam de mais capacidade de processamento. Os clientes tinham receio de que o software que já usavam pudesse não rodar nas máquinas maiores.
Assim, a IBM adotou o GNU/Linux em toda a sua linha de hardware, desde o menor laptop até seu maior mainframe.
Como resultado disto, um vendedos da IBM pode dizer: `Olhe só, o GNU/Linux roda na máquina que você está usando agora, e roda também nesta máquina maior. Seu software também irá rodar. Assim, você pode comprar, com confiança, este equipamento maior.'
A IBM usa o software para vender seu hardware.
Devo mencionar aqui que a maioria do software não é escrito intencionalmente para ser vendido, e nunca foi. A maioria das pessoas não tem idéia disto.
I should mention here that most software is not written for sale, and never had been. Many people do not realize this.

Pelo contrário, a maioria do software é escrito para ser usado em outros produtos, como aviões ou navios, ou para empresas ou sistemas de bases de dados. Por si só, nenhum software tem o que pode ser chamado de `valor de venda', tem apenas `valor de uso'.
Nos Estados Unidos, menos de 10% de todo software escrito é para ser vendido.
Entretanto, o software no qual a maioria das pessoas pensa é vendido sob o `engano de produção'. Isto é visível. As pessoas que olham para um computador freqüentemente pensam no software que está nele. As pessoas que olham para um carro ou um caminhão raramente pensam no software que eles utilizam.
Tenho falado sobre o tipo de software que as pessoas freqüentemente pensam em vender, caso sofram do `engano de produção'. Quero passar a falar agora de software que obviamente tem um `valor de uso', mas cujo `valor de venda' é duvidoso.
Empresas que fabricam cominhões ou máquinas de lavar ou possuem produzem energia elétrica freqüentemente usam o modelo de negócios `Widget Frosting', ao menos em parte.
Estas empresas desenvolvem software que é executado em seus produtos -- software embarcado (ou embutido) -- e conseguem com isto tornar seus produtos melhores do que conseguiriam com outras alternativas.
Há duas razões para tais companhias adotarem software livre. A primeira é que o software livre provê à empresa um sistema real, complexo, e funcional. Desta forma, as empresas podem investir menos esforços internos. Isto lhes custa menos. A segunda razão é que o software livre leva à produção de melhores produtos, dos quais os cliente gostam mais. Assim, as empresas vendem mais.
Claro que outras empresas podem usar o mesmo software: você precisa dar às pessoas razões para comprarem da sua empresa. E é aqui que a virtude se torna lucrativa; as pessoas irão comprar da sua empresa pois o seu hardware é melhor, ou o seu serviço é melhor, ou se existe alguma outra razão para gostarem mais da sua empresa.
E obviamente, se sua empresa não é muito conhecida, é mais fácil que as pessoas arrisquem comprar dela sabendo que podem contratar qualquer outra pessoa de confiança para fazer a manutenção de seu produto. Você reduz o risco a seus clientes fornecendo a eles software livre. Esta é uma regra paradoxal: se é fácil para o seu cliente deixá-lo, é muito provável que ele fique com você.

Agora, falemos de modelos de negócios que não geram lucros diretos, mas que reduzem custos.

Compartilhar os custos reduz custos

Imagine que você está implementando um site na Web. Talvez você deseje fazer propaganda de sua empresa ou informar para as pessoas o que você faz, ou mesmo deseja vender alguma coisa. Para ter sucesso, você precisa de confiabilidade, velocidade, e deve poder personalizar sua solução.
Como você consegue fazer isto?
Você tem quatro opções:
Você pode comprar um Web-server de distribuição restrita. Neste caso, você estará apostando que os objetivos de seu fornecedor estão de acordo com os seus, que o fornecedor tem uma competência técnica para executar bem o trabalho, e que o fornecedor será capaz de personalizar a solução de forma a satisfazê-lo.
Uma segunda opção é escrever seu próprio Web Server. Fazendo isto, você terá exatamente o que deseja.
Uma terceira opção é unir-se ao grupo Apache. Este grupo é formado por várias empresas que perceberam que seria mais inteligente unir seus esforços.

Uma quarta opção é adotar o servidor web Apache, mas não juntar-se ao grupo.
A primeira opção está ficando cada vez mais impopular. Empresas que trabalham com softwares de distribuição restrita não tem provido os serviços e ferramentas que as pessoas desejam.
A segunda opção é mais popular do que você poderia imaginar. Acontece que Web servers são razoavelmente fáceis de serem desenvolvidos. Já li sobre vários deles criados para atender a propósitos estecíficos. Ainda assim, nem todos escrevem seu próprio Web server.
No mundo todo, as opções mais populares são a terceira e a quarta.
Se você adotar o servidor Apache, mas não se juntar ao grupo, você obtém muitas vantagens do trabalho de outros, mas perde a vantagem de estar no meio do processo decisório: você se torna um observador do que os outros fazem. (Isto é o que eu faço, uma vez que uso o servidor web Apache na minha máquina em casa apenas para uso próprio -- principalmente para testes).
Se você quiser ser central nas decisões, deve se juntar ao grupo Apache.
Um outro modelo ainda é reduzir a chance de ser prejudicado.
Cisco é o exemplo clássico de uma empresa que decidiu tornar parte de seu software livre para reduzir o risco de que isto poderia prejudicar alguém no futuro.
A Cisco produz e vende equipamentos de rede. Ela possui também uma grande rede local com várias impressoras. (Acredito que eles usam mais de 10.000 impressoras.)

A empresa queria software que gerenciasse de forma eficiente suas impressoras. Para isto, contratou dois programadores para o trabalho, que foi feito.
Entretanto, os dois programadores concluíram que eles poderiam vir a deixar a Cisco no futuro, tornando difícil para a empresa manter o software que criaram. Eles sugeriram que a Cisco tornasse o software livre.
Desta maneira, o software seria usado fora da empresa da mesma forma que já era usado por ela, e as pessoas de fora iriam aprender como consertar e melhorar o software.
Mesmo que a Cisco não tenha perdido dinheiro, uma vez que eles não comercializavam este tipo de produto, eles ganharam proteção contra possíveis problemas futuros.

Conclusão

Para concluir, suas oportunidades para fazer negócios dependem de sua liberdade legal e prática para:

copiar,

estudar,

modificar, e

redistribuir



software sob uma licença livre.

Liberdade é a chave.

Liberdade leva a:

colaboração

preços baixos

confiabilidade

eficiência

segurança

barreiras menores de entrada

barreiras menores para o uso

mais oportunidades de negócios.

Robert J. Chassell é o Diretor-Fundador e Tesoureiro da Free Software Foundation, Inc. A FSF foi fundada para dar suporte ao projeto GNU, que reiniciou o movimento que leva ao software livre e código aberto. O sistema operacional GNU/Linux e as aplicações associadas são o resultado de esforços feitos pela FSF.

Chassell é um escritor e editor. Ele é o autor de "An Introduction to Programming in Emacs Lisp", co-autor do manual do "Texinfo" e editor de mais de uma dúzia de outros livros. Graduou-se na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ele pilota seu próprio avião, e tem um interesse especial em história econômica e social. Seu e-Mail é: bob@gnu.org



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